sábado, 25 de junho de 2011

Depoimento de um garoto...

Estudava num colégio particular e por três anos fui zoado pelos meus colegas de turma e por outros que frequentavam a escola. Meus pais são pobres e não tínhamos a menor condição de arcar com as mensalidades. Lembro-me da batalha da minha mãe para arrumar uma bolsa de estudos depois de andar de escola em escola, provando que eu sempre fui um aluno 100% e merecia uma chance. Quando conseguimos parecia um sonho. Sempre quis ser engenheiro e dentro de um colégio conceituado, tudo ficaria mais fácil. Que sonho que nada! Estudar ali se tornou um pesadelo. Meus colegas chegavam e voltavam de carrões, com seus pais e motoristas. Eu ficava no ponto de ônibus ou voltava a pé pra casa. Passavam por mim e faziam gestos obscenos, mostravam a língua, ou me mandavam um banana.  Na sala de aula, ninguém queria conversar comigo. Eles me isolavam e faziam desenhos de mendigos, e escreviam meu nome embaixo. Isso rolava de mão em mão por todos os alunos da classe. Até hoje ouço aquelas gargalhadas ecoando na minha cabeça e os insultos “Ci fora, seu pangaré! Vá procurar a sua turma”  Eles se divertiam as minhas custas e me evitavam como se eu tivesse uma doença contagiosa.
Até que um dia não aguentava mais, estava com tanta raiva que passei a agredir os garotos e as meninas de outras turmas bem mais jovem do que eu. Perseguia, ameaçava , fazia um montão de coisas que eu sei que não eram legais, mais foi à única forma que encontrei de me vingar. Quanto mais eles me maltratavam, mais eu descontava nas crianças. Certa vez, fiz uma bomba caseira bem grande e coloquei no banheiro masculino. Não havia ninguém por lá, todos estavam em sala de aula. Acendi o fósforo e saí rapidamente esperando o que ia acontecer. Ouvi um estrondo maior do que eu imaginava: uma porta estourou e um dos vasos sanitários foi pros ares. Voltei pra ver o estrago, afinal até eu me assustei. O diretor e os inspetores entraram e me pegaram no flagra. Fui expulso e meus sonhos foram por água abaixo. Eu só queria me impor, mostrar que eu não era um babaca qualquer.

Sérgio, 17 anos.

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